Uma das maiores análises já realizadas sobre resultados de maratonas trouxe conclusões que desafiam percepções tradicionais sobre desempenho na corrida. Conduzido pelo pesquisador dinamarquês Jens Jakob Andersen e sua equipe, o estudo avaliou nada menos que 1.815.091 resultados de 131 maratonas ao redor do mundo, entre 2008 e 2014, e revelou que as mulheres, apesar de correrem em média mais devagar que os homens, são consideravelmente melhores em manter um ritmo constante durante a prova.
A descoberta principal: ritmo mais consistente
O dado mais impressionante do levantamento é que as mulheres são 18,61% mais eficientes do que os homens em controlar o pace entre a primeira e a segunda metade da maratona. Enquanto corredoras mantêm uma cadência mais equilibrada, os homens apresentam quedas de desempenho muito mais acentuadas, com reduções que variam entre 17% e 27% ao longo do percurso.
Para Andersen, isso pode estar ligado a fatores comportamentais. Homens, em média, tendem a largar em ritmos acima do que realmente conseguem sustentar, influenciados pelo entusiasmo inicial, pela competitividade ou mesmo por excesso de confiança. Já as mulheres se mostram mais conservadoras e racionais ao longo da prova, estratégia que resulta em maior regularidade.
Aumento da participação feminina
Além do controle superior do ritmo, o estudo identificou um crescimento expressivo na participação feminina em maratonas. No período analisado, o número de mulheres que cruzaram a linha de chegada aumentou 33,35%, contra 21,61% de crescimento entre os homens. Isso significa que a entrada feminina no esporte foi 54% mais rápida que a masculina.
O destaque fica para as corredoras acima dos 50 anos: nesta faixa etária, o crescimento chegou a quase 90%, número muito superior ao registrado entre homens da mesma idade. Essa tendência indica não apenas maior interesse das mulheres pelas longas distâncias, mas também a quebra de barreiras etárias e sociais ligadas ao esporte.
Velocidade versus inteligência de corrida
É importante ressaltar que, em média, os homens ainda correm mais rápido que as mulheres. O tempo médio masculino foi de 4h21min, contra 4h41min entre elas. A diferença está na forma como cada gênero administra a energia: os homens são, em geral, mais velozes, mas também mais suscetíveis ao desgaste precoce; as mulheres correm em média mais devagar, mas com muito mais inteligência estratégica.
Lições para todos os corredores
As conclusões vão além da comparação entre gêneros. Segundo os pesquisadores, qualquer corredor — homem ou mulher — poderia melhorar significativamente seu desempenho se controlasse melhor o ritmo nos primeiros quilômetros.
O estudo recomenda estratégias como: largar de forma mais conservadora, resistir à empolgação do público, treinar em ritmo próximo ao da prova e desacelerar ao primeiro sinal de desgaste para evitar a quebra total.
Em suma, o maior levantamento sobre maratonas já feito mostra que, quando o assunto é estratégia, as mulheres dão uma verdadeira aula em consistência. Para quem busca evoluir nos 42 km, a lição é clara: a inteligência no controle do ritmo pode valer tanto quanto a velocidade bruta.